O mundo helênico emergiu
lentamente da profunda crise que provocou o desmoronamento da civilização
micênica. A Grécia Antiga nunca foi constituída por um só Estado soberano.
Neste aspecto diferia do Antigo Egito e do Império Romano. Durante a época em
que criou uma das mais brilhantes civilizações conhecidas da humanidade,
encontrava-se dividida numa série de pequenas cidades-estados. De qualquer
forma existia uma identidade coletiva que se manifestava na língua, nos deuses
adorados e num acontecimento especificamente grego, os Jogos Olímpicos. Foi também suficientemente forte e inspiradora
para originar estilos artísticos que o mundo atualmente reconhece como
inequivocamente gregos.
2.1. Arquitetura
Os edifícios gregos eram
construídos por blocos horizontais sustentados por paredes e colunas. A
designação vulgarmente usada para os descrever é a de construção de pilar e
lintel. Não existiam praticamente curvas ou arcos, embora os gregos dominassem
a técnica da construção de arco de pedra. Os edifícios mais importantes foram os templos erguidos para acolher a
estátua de um deus.
2.1.1. Período Arcaico
Em fins do século VIII, e
sobretudo no séc. VII ªC., os templos foram adquirindo maior identidade,
tanto pela melhoria dos materiais empregados como pelo aumento das dimensões.
As formas arredondadas, tributárias das primeiras cabanas, foram dando lugar às
plantas retangulares e a
estrutura do mégaron micênico. O resultado foi um templo de planta
muito larga, com suportes no eixo. Geralmente a construção era feita sobre
alicerces de pedra, com paredes de adobe e estrutura de madeira. A pedra como
componente estrutural importante, foi sendo incorporada pouco a pouco, acabando
por se impor como o principal material de construção, mas o tradicionalismo,
bastante explicável quando se trata de arquitetura religiosa, fez com que
fossem traduzidas nela as formas das construções de madeira.
A partir do final do século
VII, e, sobretudo no século VI ªC.
proliferaram templos de pedra, o edifício de maior importância na arquitetura
arcaica.
Estilos Arquitetônicos
dos Templos Gregos
- distinguiam-se mais claramente pelas variantes das colunas e dos capitéis e, em particular, pelas formas como os
capitéis eram decorados. As três ordens principais eram a dórica, a
jônica e a coríntia. A partir do
aparecimento das ordens/colunas, definiu-se o tipo mais freqüente de templo: um
ambiente retangular para a imagem de
culto (náos ou cela), com pórtico de entrada (prónaos) e, por
vezes, uma estrutura similar posterior (opisthódomos), rodeado por uma
colunata (perystilion), tudo sobre uma plataforma escalonada (krepidoma).
Coluna Dórica – de fuste canelado e capitel
composto por um eqüino de perfil curvo e um ábaco prismático – alonga-se,
recolhendo-se gradativamente a saliência do capitel o entasis, alargamento
central do fuste, ocasionalmente bastante pronunciado, é geralmente muito
suave, quase imperceptível, ou não existe.
Coluna
Jônica - criação
da Grécia oriental. Essa ordem apresenta maior esbelteza que a dórica. A coluna
jônica tem base emoldurada, caneluras separadas no fuste e um capitel
característico, composto por um eqüino, freqüentemente decorado com óvalos e
dardos, envolto pelas típicas volutas e um pequeno ábaco.
Do final do período arcaico
encontramos, ainda, as colunas com decoração escultórica – as cariátides,
ou esculturas femininas com função de suporte. As cariátides e/ou atlantes corpos masculinos – são
demonstração do gosto pela decoração, próprio da ordem jônica.
Colunas Gregas |
A ordem coríntia era, em
muitos aspectos, semelhante à jônica, encontrando-se a diferença principal no
capitel, este muito mais ornamentado. Folhas de acanto rodeavam freqüentemente
a parte inferior do capitel coroado por volutas simétricas. Por vezes, folhas
de lótus ou de palmeira substituíam as volutas. Nos templos helenísticos o
estilo coríntio alcançou forte popularidade.
As ordens gregas eram
subordinadas a regras matemáticas estritamente aplicadas.
2.1.2. Período Clássico
Os templos atingiram o
esplendor no século V ªC.. Nesse período adquiriram importância os edifícios
destinados a satisfazer necessidades que antes se resolviam com construções
rudimentares ou provisórias, entre as quais os teatros.
A partir do século IV empreende-se a construção de
teatros de pedra, em cidades e santuários, que se tornaram parte essencial da
paisagem urbana. Os principais elementos do teatro são: a arquibancada (theatron), estrutura escalonada para os
espectadores, rodeando um espaço
circular (orchestra), à frente do qual se acha, um pouco mais elevado, o palco (skene) para as representações.
2.2. Escultura
Os materiais
preferencialmente utilizados para as esculturas de maior porte eram o mármore
e o bronze, embora também se empregassem pedras de qualidade inferior,
madeira e terracota.
As estátuas gregas,
como os edifícios, nasceram para venerar os deuses, os únicos a merecer tanto
esforço. Mas os deuses gregos foram
concebidos à imagem e semelhança do homem, tinham forma humana. Uma vez estabelecida esta premissa, resultou
que nenhuma forma estilizada era satisfatória, mesmo que em si própria fosse
agradável. Para ser satisfatória, uma estátua deveria ter um aspecto
completamente humano, sem nenhum daqueles pequenos e inevitáveis defeitos que
todo ser humano possui. Era necessário eliminar
tudo o que fosse individual, acessório, acidental: elevar-se das formas
do homem à forma da humanidade.
O tema central da escultura grega foi a
figura humana. Tomando o ser humano como centro de atenção, de reflexão
filosófica e formal, pode-se afirmar que, na estátua do homem, de preferência
nu e em pé, condensou-se o essencial da investigação escultórica. Ela foi a
viga-mestra da plástica helênica.
2.2.1. Período Arcaico (c. 660-480 AC)
Durante o século VII AC, a influência egípcia foi
intensa e a escultura teve semelhanças evidentes com as criadas no Egito
durante séculos. O Arcaico foi um longo período de estudos, de experiências,
para compreender e explorar os limites do material, para criar formas realistas
partindo do bloco de mármore.
Primeiras
formas masculinas
foram os Kouros, isto é, jovens ou, como às vezes se diz, Apolo, uma
figura de homem, de pé, nu, fixada no momento em que vai dar um passo em
frente. Braços encostados no corpo, mãos fechadas ou junto ao corpo, ombros
largos, cintura fina, ancas estreita. O cabelo dava a impressão de uma
cabeleira e as orelhas e a rótula pareciam mais elementos decorativos do que
partes integrantes do corpo.
Durante a segunda metade do
séc. VI, as oficinas áticas produziram uma multiplicidade de esculturas de
donzelas – korai, koré - vestidas à moda jônica, com uma túnica fina
(chiton) e um manto de tecido mais grosso (himation). A postura se repete por
motivos religiosos: a jovem, com as pernas juntas ou uma delas ligeiramente
adiantada, apresenta a oferenda com uma das mãos, enquanto prende o rodado da
túnica com a outra, o que destaca a assimetria do pregueado e ajusta a
roupagem.
As mudanças começaram a ocorrer
por volta do século VI a. C. E uma das causas foi o estudo da anatomia humana. Estudo que evoluiu, em grande,
parte pelas oportunidades de observar o corpo masculino, tanto em repouso como
em movimento, nos numerosos concursos atléticos.
As alterações se manifestaram
nas orelhas, olhos e rótulas que começaram a ganhar vida. Os braços e as pernas
tornaram-se extensões naturais do corpo. O cabelo deixou de parecer uma
cabeleira.
As mudanças também são
perceptíveis na representação da mulher.
As roupas tornaram-se drapeadas, tornando compreensível o corpo em baixo do
vestuário.
Apesar das mudanças ainda havia
rigidez. Contudo, na segunda metade do
século VI a. C., pela primeira vez, um artista afastou-se das convenções. A
prática estabelecia consistia em representar a perna esquerda ligeiramente
avançada em relação à direita, com ambos os pés firmemente assentados no solo e
o peso distribuído igualmente entre os dois. A mudança foi obter um equilíbrio
mais natural colocando o peso sobre um dos pés o que requeria que o outro pé
ficasse parcialmente levantado do solo e o eixo dos ombros e das ancas girasse
ligeiramente – técnica do contrapposto.
2.2.2. Período
Clássico (c.480-330a. C)
A estátua plenamente clássica surgiu
no início do século V quando os kouros ganhou
mobilidade em oposição a rígida frontalidade. De um corpo rígido e estático
passou-se ao corpo em repouso, com uma nova e virtual mobilidade. Esta foi a
fórmula da estátua clássica por excelência.
Os escultores adquiriram maior
liberdade pela utilização do processo de moldagem em bronze, praticado a partir
do século V a. C. A libertação dos padrões dos kouros e a experiência acumulada
na realização de grupos escultóricos – frontões dos templos etc. – deu asas às
experimentações da estátua com movimento, na primeira época clássica. No século
IV a. C. continuaram as variações mais ou menos originais, mas foi, sobretudo
um período de busca de novos caminhos.
A Estátua Feminina
Valem para ela os aspectos
básicos da evolução da estátua masculina: naturalismo progressivo, passagem da
frontalidade à multiplicidade de pontos de vista etc.. Entretanto, a figura
feminina tinha aspectos específicos como a importância da vestimenta.
Durante o período arcaico as
esculturas de donzelas – korai, koré – eram rígidas, a postura sempre igual: pernas juntas ou uma delas
ligeiramente adiantada, roupa pregueada e justa.
Porém no primeiro classicismo os
escultores mostraram a majestosa elegância que cabia imprimir a uma estátua de
mulher, com as possibilidades oferecidas pelo estudo do vestuário.
Ao lado dessa tendência a
ocultar o corpo debaixo de uma espessa roupagem, evoluía outra corrente da
estatuária feminina enraizada nas korai
de vestimenta jônica, que deixava aflorar a anatomia do corpo feminino sob os
tênues véus que o cobriam. Na segunda metade do séc. V, Fídias e os mestres do
Partenon colocaram em voga o chamado estilo dos panos molhados, que
acentuava a transparência do vestido.
Tudo se encaminhava para um
novo passo no século IV a. C: o
aparecimento do nu feminino. A inovação ficou por conta de Praxíteles, que
esculpiu, em mármore de Palos, uma Afrodite para seu templo do Cnido.
2.2.3. Período
Helenístico (c.330-100 a. C)
A época helenística, aberta à
multiplicidade de caminhos nas manifestações plásticas, desenvolveu e sintetizou
todo o período anterior com uma produção riquíssima. Contínuas referências ao
passado, inclusive o arcaico, conviveram com experiências radicalmente novas.
Pode-se apreciar um amplo desenvolvimento da tendência à evolução circular das
esculturas: figuras que giram ou se retorcem sobre si mesmas.
Na época, intensificou-se o
interesse pelo nu feminino, muitas vezes reproduzindo-se os exemplos gregos,
mas não desapareceu a estátua feminina vestida. No pregueado das roupas,
freqüentemente muito pictórico, desde que se experimentaram os panos molhados,
concentrou-se o esforço de sugerir textura ou transmitir sensações ou
sentimentos – anseio, paixão, júbilo. Por outro lado, as estátuas femininas e
masculinas mostraram o interesse pelo desenvolvimento circular da escultura, ou
o enriquecimento da temática
tradicional, com a adição dos aspectos do realismo que insuflaram alma nova a
muitas das criações helenísticas.
Síntese
Estilística da Escultura Grega
A história da escultura grega
começou com o estilo arcaico –
meados do séc. VII -primeiros anos do séc. V ªC. As formas inicialmente rígidas, aos pouco,
adquiriram naturalidade, numa evolução evidente, mas lenta, numa produção
carregada de significação religiosa. Uma das conseqüências disso foi à
perduração dos tipos: o kouros, a koré.
A passagem para o que
entendemos por escultura clássica
ocorreu no início do século V. Uma de suas características foi a libertação das
amarras e limitações do arcaísmo. Foi, em suma, um estilo/modo de fazer
impulsionado por uma atitude mais livre por parte do artista, apoiado na sua
maior capacidade para resolver problemas técnicos.
O primeiro classicismo pode ser denominado estilo severo marcado pela simplicidade ou severidade das formas. É
um estilo sintético, ou seja, analisa a realidade para sintetizá-la nos
elementos essenciais, elimina os detalhes. As partes do corpo aproximaram-se
das formas geométricas, o gosto das formas delicadas e diáfanas fez com que as
vestimentas dóricas fossem preferidas às jônicas, mais propensas ao detalhismo.
O nu masculino também mantém certa
rigidez.
Nesse período acentuou-se o
movimento, favorecido pelo domínio da fundição de bronze. Surgiu também a
caracterização dos indivíduos e sua diferenciação de acordo com a idade,
profissão etc.
São visíveis as mudanças ocorridas
na segunda metade do séc. V - estilo clássico pleno. A figura humana era, então, perfeita em seu
aparente naturalismo, com ênfase especial nas articulações e estruturas. As
estátuas adquiriram ar solene, principalmente quando se tratava de imagens divinas.
Além disso, havia predileção por
estátuas grandes.
Bastante característico foi o tratamento do
vestuário. Acima de sua aparência natural, a roupagem é mais racional que
realista, servindo para expressar o movimento ou para modelar a figura, tudo
com evidente intenção decorativa, estilo dos panos molhados, que têm aparência
pictórica.
Na época helenística a ênfase no realismo
levou ao tratamento de novos temas, com formas também novas. Aparecem os corpos
volumosos e musculosos, atitudes empoladas e teatrais, composições comprimidas
e derramadas.
demais
manifestações Artísticas
A pintura mural ou em suportes móveis teve
grande importância, mas se perdeu totalmente. Entretanto a pintura cerâmica, independente do seu valor, constitui um campo
excepcionalmente rico da arte grega.
Período
geométrico - cerâmica
ocupou o posto de principal produto artístico. A decoração baseava-se num rico
repertório de temas geométricos meticulosamente traçados, dando lugar a alguns
motivos faunísticos, tratados com idênticas leis repetitivas e formais.
No século VII apareceu a cerâmica Ática de figuras pretas na qual os
artistas inscreviam decoração miniaturalista
ao mesmo tempo em que se impunha uma nova decoração em quadros maiores,
nas quais as figuras ganhavam imponência e expressividade.
No último quartel do século VI
aparece a técnica das figuras vermelhas em que o fundo é coberto de preto,
enquanto as figuras são mantidas na cor avermelhada do barro.
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